Uma variável aleatória é classificada como contínua se assume valores em qualquer intervalo dos números reais, ou seja, um conjunto de valores não-enumerável. Dessa forma, pode se observar que não é possível atribuir probabilidades para um ponto específico, apenas para intervalos da reta.
Exemplos:
Peso de animais;
Tempo de falha de uma estrutura metálica;
Resistência à compressão do concreto;
Altura da maré em uma hora específica;
Salinidade da água do mar;
Retorno financeiro de um investimento.
Neste sentido, a natureza dessas variáveis aleatórias nos mostra que não podemos atribuir probabilidades à valores específicos, pois há uma quantidade não enumerável (infinita) de valores num intervalo entre dois pontos. Consequentemente, atribui-se probabilidades à intervalos de valores, por meio de uma função de X. Portanto, as probabilidades são representadas por áreas sob a curva.
Graficamente, temos
knitr::include_graphics("img/densidade1.png")
Observa-se que nem todos os k=11 intervalos (do histograma) estão sob a curva da função de X. Além disso, alguns intervalos não representam a área sob a curva. Porém, aconteceria se dividissémos em k=22 intervalos? Vamos ver por um outro exemplo gráfico.
knitr::include_graphics("img/densidade2.png")
Assim, fazendo-se k→∞ (ou n→∞), teríamos que cada intervalo represente alguma área (ou probabilidade) sob à curva.
Vamos avaliar essa ideia com um exemplo prático.
Exemplo 1:
Estudos anteriores revelam a existência de um grande lençol freático (ou de água) no subsolo de uma região. No entanto, sua profundidade ainda não foi determinada, sabendo-se apenas que o lençol pode estar situado em qualquer ponto entre 20 e 100 metros. Vamos supor que selecionamos, ao acaso, um ponto nessa região e dispomos de uma sonda que, ao fazer a perfuração, detecta a profundidade do reservatório de água.
Seja X uma variável aleatória contínua tal que
X:Profundidade do lençol freático
A partir disso a ideia é propor um função para X e calcular algumas probabilidades de interesse.
Observação 1: É razoável assumir que a sonda pode parar em qualquer ponto entre 20 e 100 metros, sem que tenhamos motivos para privilegiar essa ou aquela profundidade, ou seja, consideramos todos os pontos como equiprováveis.
Observação 2: Ao pensar em atribuir uma probabilidade para cada ponto, chegamos a uma dificuldade, como temos infinitos pontos e todos são equiprováveis, teríamos infinitas probabilidades o que causaria uma probabilidade total de valor infinito, e não 1 como deve ser.
A solução, neste caso, é não considerar valores únicos no cálculo da probabilidade, e sim intervalos de valores. Assim, o espaço amostral correspondente é [20,100] e as profundidades são igualmente prováveis.
Então,
Suponha que dividimos o espaço amostral em 8 intervalos de comprimento 10.
É razoável atribuir aos intervalos a probabilidade 18, correspondendo à relação entre o comprimento de cada um deles e o comprimento do espaço amostral.
knitr::include_graphics("img/densidade3.png")
E se dividissémos o espaço amostral em 16 intervalos ?
knitr::include_graphics("img/densidade4.png")
Assim, aumentando cada vez mais o número de intervalos, diminuindo suas amplitudes, até, obtermos (teoricamente) infinitos intervalos e o seguinte histograma
knitr::include_graphics("img/densidade5.png")
Assim, a probabilidade de uma variável aleatória contínua é definida pela área sob à curva de uma função positiva, denominada função densidade de probabilidade. Observa-se que a função densidade não é uma probabilidade, mas uma função que auxilia na determinação de probabilidades.
Então, para a variável aleatória contínua X representando a profundidade do lençol freático, a função densidade é dada por
f(x)={180se 20≤x≤1000caso contrário
Definição 1.
Diz-se que X é uma variável aleatória contínua, se existir uma função f , denominada função densidade de probabilidade (fdp) de X que satisfaça às seguintes condições:
f(x)≥0
∫+∞−∞f(x)dx=1
Vamos considerar uma função densidade f e que nosso interesse é calcular a probabilidade da variável aleatória X observar valores num intervalo [a,b].
Pergunta: Como calcular P[a≤X≤b] ?
Primeiramente, vamos analizar o gráfico da função f, ou seja,
knitr::include_graphics("img/densidade6.png")
Assim, a funçãfo densidade probabilidade atribui probabilidades à intervalos de valores do tipo [a,b] e é calculada por
P[a≤X≤b]=∫baf(x)dx. Observações:
P[a≤X≤b]=P[a≤X<b]=P[a<X≤b]=P[a<X<b]
Qualquer função f(⋅) que seja não negativa e cuja área total sob a curva seja igual à unidade caracterizará uma variável aleatória contínua.
A função de distribuição acumulada (fda) para uma variável aleatória X é definida por
F(x)=P[X≤x]=∫x−∞f(t)dt, em que f(t) é uma fdp. Isto significa que F′(x)=dF(x)dx=f(x).
Exemplo 2
Seja f uma função tal que
f(x)={32x2,se −1≤x≤10,caso contrário
Verifique se essa função é uma função densidade.
Calcule:
b1. P[X>0]
b2. P[X>1/2]
b3. P[−1/2≤X≤1/2]
b4. P[X<−2]
b5. P[X<1/2]
b6. P[X<0∪X>1/2]
Solução a. :
Para verificar se a função f é densidade probabilidade, precisamos observar duas condições. A primeira é que f seja uma função não-negativa, isto é, f(x)≥0.
Observa-se que
Parax∈[−1,1]a imagem de f está contida em[0,32]
Logo, f(x)≥0.
A segunda condição é que a área sob à curva seja igual a 1, isto é,
∫1−1f(x)dx=32∫1−1x2dx=32x33|1−1=1.
Portanto, f é função densidade probabilidade.
Solução b1. :
P[X>0]=∫10f(x)dx=32∫10x2dx=32x33|10=12.
A esperança de uma variável aleatória contínua X tem o mesmo sentido e interpretação da esperança de uma variável aleatória discreta, ou seja, é a média ou valor esperado de X. Neste caso, a esperança é obtida por meio da integral do produto de x com a função f(x), no intervalo definido pelo domínio de f.
De uma maneira geral,
μ=E(X)=∫+∞−∞x⋅f(x)dx.
A variância de uma variável aleatória X, como já vimos, fornece o grau de dispersão dos valores de uma variável aleatória em relação à sua média μ. A forma geral para o cálculo é representada por
Var(X)=E{[X−E(X)]2}=E[(X−μ)2]. No entanto, uma foma mais fácil operacionalmente pode ser deduzida a partir da equação acima, ou seja
Var(X)=E(X2)−[E(X)]2, em que
E(X2)=∫+∞−∞x2⋅f(x)dx. Exemplo 3
Seja X uma variável aleatória contínua com função densidade dada por
f(x)={32x2,se −1≤x≤10,caso contrário
Solução:
A esperança de X é dada por
μ=E(X)=∫1−1x⋅f(x)dx=32∫1−1x3dx=32x44|1−1=32(14−14)=0.
Então, para o cálculo da variância de X, temos
Var(X)=E(X2)=∫1−1x2⋅f(x)dx=32∫1−1x4dx=32x55|1−1=32[15−(−15)]=35.
Portanto, o desvio-padrão de X é dado por
σX=√Var(X)=√35=0.774
f(x)=2e−2xsex>0
Qual é a probabilidade da lâmpada durar até 2 anos ?
Qual é o valor esperado do tempo de duração (em anos) de uma certa lâmpada ?
F(x)={0,sex<11c(1−e−(x−1)),se1≤x<21c(1−e−1+e2−e−2(x−1)),sex≥2
Obtenha o valor de c.
Obtenha a correspondente função densidade da variável X.
Determine P(X≥3/2|X<4).
Este conteúdo está disponível por meio da Licença Creative Commons 4.0